quinta-feira, 23 de maio de 2013

Hélio Anjos Ortiz


Texto de Antonio Carlos Popinhaki

(Atualizado em 29/setembro/2021)


No termo de nascimento do Cartório de Registro Civil de Curitibanos, na grafia original, está anotado que “aos dezoito dias do mez de janeiro do anno de mil novecentos e vinte e oito, nesta villa de Curitiybanos, Estado de Santa Catarina, em meu Cartório, compareceu o Sr. Felisbino Alves Ortiz, negociante, residente nesta villa e em presença das testemunhas abaixo nomeadas e assignadas, declarou: que, em sua casa de residência, nesta villa, à Rua Dr. Lauro Müller, no dia sete do corrente mez e anno, á uma hora da manhã, nasceu uma criança do sexo masculino, que recebeu o nome de Hélio Anjos Ortiz, filho legítimo do mesmo declarante e sua mulher Celina Anjos Ortiz, naturaes deste Estado, domiciliados e residentes nesta Villa, casados devidamente nesta Comarca: Avós paternos, Custódio Francisco Ortiz e Victalina Maria Pereira, já fallecidos nesta Comarca; avós maternos, Paulino Pereira dos Anjos e Maria Santa Arruda Anjos, naturaes deste Estado, e residentes na cidade de Lages. Do que para constar, lavrei este Termo, que lido e achado conforme, assigna o declarante, com as testemunhas (...)”. 

Alguns escritores e pesquisadores que me antecederam, já escreveram sobre Hélio Anjos Ortiz, contudo, espero apenas complementar esses escritos com algumas informações adicionais, sem desmerecer nenhum dos trabalhos já produzidos.

Conforme crescia, Hélio se destacou por demonstrar notável inteligência entre outras crianças, colegas do Colégio Santa Teresinha. Ele tinha muito afeto às freiras do colégio, por isso, depois de alguns anos, sentiu ter de deixá-las. Naquele tempo, não havia como prosseguir os estudos em Curitibanos, pois havia um limite de anos nos bancos escolares. Como alguns filhos de curitibanenses, foi matriculado no Ginásio Aurora de Caçador (Colégio Marista Aurora), para o curso científico. Foi para essa cidade que os seus pais o levaram. Teve sorte, pois a sua avó materna residia em Caçador. Ficou algum tempo morando com ela e, depois, transferiu-se para o internato naquela mesma cidade, pois não conseguiu se adaptar com a avó. Anos mais tarde escreveu: “Em 1939, deixei o lar paterno em busca do mundo maravilhoso do saber, mas o que sabia eu com onze anos de idade? Filho mimado e assustava-me pela distância que separava os meus progenitores. Tive uma educação útil na formação de um bom cidadão. Valeu-me muito a energia do meu pai.” 

De certa forma, Hélio Anjos Ortiz foi um pioneiro, pois naquela época quase ninguém queria que os seus filhos estudassem, principalmente quando tinham que mudar-se de cidade. O Senhor Felisbino não media dificuldades. Queria que o seu filho tivesse o que para ele já era impossível adquirir. Será que conseguimos entender o valor intelectual desse cidadão? Compreendeu que seu filho deveria ser um homem culto e dessa forma, ter um futuro promissor. Felisbino estimulou o filho, de forma que soube transmitir com palavras simples e carinhosas, toda a sua ambição como pai. O resultado foi que Hélio estudou com afinco, não decepcionando a família. Os estudos em Caçador foram proveitosos e frutíferos.

Após prestar vestibular, ingressou na Universidade Federal do Paraná — UFPR, no curso de Medicina. Com vontade inabalável, estudou muito, dedicando-se com determinação aos livros. Pensava antes de tudo, em proporcionar a seus pais a alegria de presenciarem a sua formatura. Naquela respeitável instituição de ensino superior, entre as alunas da faculdade, uma lhe chamou a atenção, uma moça de nome Maria Elita Santos, que cursava Odontologia e muito se identificava com ele. Eles se casaram em 31 de março do ano de 1951. Depois do casamento ela passou a se chamar Maria Elita Santos Ortiz. Hélio formou-se em 1953, recebendo dessa forma, o tão cobiçado Diploma de Médico. Isso trouxe grande orgulho para todos, inclusive para os moradores de Curitibanos.

Após formado, o novo médico permaneceu por pouco tempo em Curitibanos. Devido às oportunidades a ele apresentadas, optou por trabalhar em São Paulo. Na verdade, ele justificou essa escolha, pois desejava poder se aperfeiçoar na sua profissão, visto que em São Paulo, na grande metrópole, ele teria maiores condições para esse objetivo.

Depois de alguns meses na capital paulista, retornou para Santa Catarina, desta vez, optou por trabalhar no Hospital São Francisco, da cidade de Concórdia. Não demorou muito tempo e recebeu um convite dos diretores da empresa Klabin para ser o médico oficial da mesma, na planta de Monte Alegre, Paraná.

No ano de 1958, após um exaustivo trabalho de campo, de aperfeiçoamento e de obter maior experiência profissional, retornou para a sua terra natal, Curitibanos. Nessa época ele escreveu: “o grande passo da faculdade da vida prática, foi para mim, um acontecimento que calou profundamente meu espírito. Do início depende a rota que iremos trilhar. Somente o nosso espírito poderá ser o verdadeiro orientador. Hoje, que alguns anos são passados, posso com orgulho, dizer que escolhi o caminho mais árduo, mas o que proporciona ao meu espírito uma paz que poucos podem gozar. O dinheiro nunca me seduziu. Mesmo no início, lutando com as maiores dificuldades, jamais me utilizei de recursos escusos para multiplicar meus poucos rendimentos, da ajuda financeira de meu pai e tampouco executei algum aborto”. O já experiente, o médico curitibanense abriu o seu consultório na cidade e iniciou as suas atividades profissionais entre os seus conterrâneos, distribuindo em suas consultas, bondade e amor ao próximo. Atendia a todos, sem olhar a classe social, muito menos para o pagamento das consultas.

Ao exercer a sua profissão em Curitibanos, revelou-se um profissional com qualidades ímpares: humano, bondoso e carismático, amigo dos pacientes e da população que o procurava. A sua fama foi se espalhando rapidamente até extrapolar para outro campo além da medicina. Hélio Anjos Ortiz mostrou-se vocacionado à política, isso mesmo, ele tinha essa vocação. Era um excelente orador e possuía todas as prerrogativas necessárias para galgar um lugar nessa área.

Sendo assim, candidatou-se à prefeitura de Curitibanos, eleito por duas ocasiões: de 31 de janeiro de 1961 até 31 de janeiro de 1966 e de 31 de janeiro de 1970 até 31 de janeiro de 1973. Suas duas gestões foram exemplares e marcantes. No desempenho desses mandatos, revelou-se um homem prático, objetivo e capaz de suprir as demandas da época, como saúde, educação, trafegabilidade, agricultura e pecuária. Construiu escolas no interior do município e através da sua capacidade administrativa, melhorou muito a malha viária das estradas vicinais, tornando-as trafegáveis e seguras.

Dentre as muitas ações que o Dr. Hélio Anjos Ortiz executou com a sua brilhante equipe de colaboradores, nos dois períodos em que esteve à frente do poder executivo curitibanense, estão: a modernização do parque de máquinas, com a compra de novos tratores, carregadeiras e caminhões basculantes para os serviços de terraplanagem em geral. Ele prosseguiu com o serviço de pavimentação das ruas do perímetro urbano, aproveitou os novos recursos tecnológicos das novas máquinas e abriu novas ruas, construiu também, novas praças arborizadas. Plantou palmeiras, melhorando assim, o visual das ruas e avenidas curitibanenses. Como já citado, ele construiu escolas no interior, destacando-se, entre elas, o prédio ginasial do então Distrito de Frei Rogério, na sua segunda gestão, deu início também, na construção do terminal rodoviário que serviu a população por décadas. A partir de um discurso proferido numa palestra no ano de 1972, o Dr. Hélio explanou da importância de se criar um museu em Curitibanos, para servir de fonte de pesquisas sobre a cultura, preservação da memória e do patrimônio abstrato e concreto da nossa história. Naquele mesmo ano, organizou-se uma comissão “pró-museu”, dessa forma, incentivou e inspirou na criação do Museu Histórico Antônio Granemann de Souza.

Também, na sua segunda gestão, começaram as obras para que a população de Curitibanos pudesse ter em suas casas, a água tratada e encanada. Foram construídas enormes caixas d’água para o armazenamento do precioso líquido coletado no Rio Marombas. Seu jeito de administrar chamava a atenção, pois era transparente em suas ações. Dessa forma, tinha o apoio e a confiança dos munícipes em todas as suas tomadas de decisões. O seu profissionalismo e a sua correta maneira de agir no tocante à administração dos recursos públicos, ficou assinalado de forma positiva nos anais da história.

Após encerrar a sua segunda gestão, foi convidado para compor o grupo administrativo do governo do Estado de Santa Catarina, recebendo o cargo de Secretário Estadual de Saúde. Mesmo exercendo essa função, era comum vermos dezenas de pessoas fazendo fila na frente do seu consultório, para uma consulta. O Dr. Hélio Anjos Ortiz era incansável, pois invariavelmente, ficava até altas horas atendendo a população que o procurava. Quando não tinha o medicamento (amostra grátis), escrevia uma ordem de fornecimento aos proprietários das farmácias locais, para que fornecessem e colocassem os medicamentos receitados na sua conta pessoal.

No cargo de Secretário Estadual de Saúde, trabalhou com afinco para melhorar a estrutura da saúde pública em todas as regiões de Santa Catarina. Foi o responsável pela construção de um Hospital Regional para atender a demanda do Meio-Oeste catarinense. Graças aos esforços desse brilhante curitibanense, temos hoje o Hospital que leva o seu nome em Curitibanos, atendendo pacientes de dezenas de municípios.

No início do ano de 1978, após ser diagnosticado com um pequeno problema no coração, concordou em submeter-se a uma simples cirurgia num hospital especializado em São Paulo. Durante a cirurgia, houve um imprevisto e complicações no procedimento, causando-lhe a morte prematura e inesperada no dia 13 de março de 1978.

Após a sua morte, foram muitas as homenagens ao seu nome. Em 24 de fevereiro de 1983, o então prefeito Armando Costa, através da Lei Ordinária n.º 1535/1983 denominou uma das ruas do Distrito de Ponte Alta do Norte de: Rua Dr. Hélio Anjos Ortiz. Lei revogada no dia 17 de novembro do mesmo ano de 1983, através da Lei Ordinária n.º 1572/1983, que manteve o seu nome na referida rua. 

Em 2 de maio de 1985, o então prefeito de Florianópolis Aloísio Acácio Piazza, através da Lei Ordinária n.º 2213/1985, denominou uma rua com o nome de Rua Dr. Hélio Anjos Ortiz no Distrito de Canasvieiras.

Também na cidade de Frei Rogério existe uma rua com o nome do médico curitibanense.

Na cidade de São Cristóvão do Sul, o então prefeito Adilson
Gaboardi, através da Lei Ordinária n.º 57/1994 de 26 de abril de 1994, alterou o nome da Escola Isolada Dr. Hélio Anjos Ortiz para: “Grupo Escolar Dr. Hélio Anjos Ortiz”, localizado na localidade Monte Alegre.

O Hospital Regional Hélio Anjos Ortiz iniciou as suas atividades em outubro de 1984, data em que foi desativado o Hospital Frei Rogério. Através da Lei Ordinária n.º 2756/1993, de 25 de outubro de 1993, o então prefeito Generino Fontana declarou “Utilidade Pública”, a Fundação Hospitalar de Curitibanos — Hospital Hélio Anjos Ortiz.

A pesquisadora Coracy Pires de Almeida, por iniciativa pessoal, com a ajuda financeira de doações da comunidade curitibanense, mandou construir uma estátua de bronze do Dr. Hélio Anjos Ortiz. Essa obra está fixa no pátio do Hospital Hélio Anjos Ortiz de Curitibanos.

No ano de 1976, o ensino superior teve início em Curitibanos com a implantação e funcionamento da Fundação Educacional do Planalto Central Catarinense — FEPLAC. Com a criação dessa instituição, foi também inaugurada a Biblioteca Dr. Hélio Anjos Ortiz.

Este texto é uma pequena homenagem e amostra da grandiosidade do ilustre curitibanense, chamado Dr. Hélio Anjos Ortiz. Com segurança, fez falta em nosso meio.



Referências para o Texto:



KRUKER, Giovana Aparecida; PEREIRA NETO, Jairo. Memórias de Coracy Pires de Almeida. Thipograf. Curitibanos, 2008.


BACELAR, Juvenal B. Wilmar Ortigari. Escritos biográficos. Curitibanos, 12 de maio de 1974. Acervo do Museu Histórico Antônio Granemann de Souza.


Biblioteca Dr. Hélio Anjos Ortiz. On line: Disponível em: https://unc.br/biblioteca/curitibanos


Curitibanos. Lei Ordinária Nº 1535/1983 - Cria rua com o nome de Rua Dr. Hélio Anjos Ortiz no distrito de Ponte Alta do Norte.


Curitibanos. Lei Ordinária Nº 1572/1983 - Revoga a lei 1535/1983 e mantém o nome da Rua Dr. Hélio Anjos Ortiz


Curitibanos. Lei Ordinária nº 2756/93 - Declara Utilidade Pública.


Estrutura do Hospital Hélio Anjos Ortiz. On line: disponível em: http://www.hhao.com.br/estrutura.html


Foto: Galeria de prefeitos da Prefeitura Municipal de Curitibanos


Florianópolis. Lei Ordinária nº 2213/1985. Denomina nome de rua.


Lista de Prefeitos de Curitibanos. Portal Wikipédia. On line: Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_prefeitos_de_Curitibanos


POPINHAKI, Antonio Carlos. O Museu Histórico Antônio Granemann de Souza. Blog pessoal. On line: disponível em: 

http://antoniocarlospopinhaki.blogspot.com/2021/02/o-museu-historico-antonio-granemann-de.html


Registro do nascimento de Hélio Anjos Ortiz. Portal FamilySearch. On line: disponível em: https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:S3HY-X3XQ-PM9?i=89&wc=MXYL-8MS%3A337701401%2C337701402%2C338124701&cc=2016197


São Cristóvão do Sul. Lei Ordinária nº 57/1994. Altera nome de escola.

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